O "quem sou, de onde venho" é, de sempre, uma preocupação do Homem. Tenho procurado a resposta a esta pergunta em relação à nossa profissão.
Na minha tese de licenciatura sobre o perfil dos assessores de imprensa o meu orientador/professor de Sociologia da Comunicação indicou-me um livro interessantíssimo: L’ État Communiquant, na altura era recente e só havia em francês, penso que não há tradução, mas aconselho. Está a indicação na bibliografia ali ao lado.
Segundo este livro a criação do Comissariado Geral de Informação em França, em 1939, marcou verdadeiramente o início de um processo que fez sentido à posteriori: a partir desta “data”, a informação apareceu como uma preocupação governamental contínua.
A formalização e a materialização da informação governamental destinada aos cidadãos franceses constituem uma ruptura institucional e cultural, tanto para os parlamentares como para os próprios governantes. No fim dos anos 50, a potencial difusão de uma mensagem específica sobre a acção do governo destinada aos franceses e o aparecimento da tomada de palavra pelo governo aparecem como um novo modo de intermediação entre o Estado e a sociedade mas também como uma forma de adopção dos métodos das forças da oposição, das forças de movimento.
Tudo aconteceu, no fundo, com a conjunção das dificuldades encontradas pelo Estado Francês, dentro e fora das suas fronteiras, com as críticas relativas à sua gestão governamental. Os meios de informação geraram o projecto de um direito de resposta por parte dos governantes.
O projecto de informação governamental, por supor a intervenção dos governantes no debate público, induziu ainda à ideia do seu reconhecimento de se por em concorrência e da sua participação numa competição. Numa intervenção do secretário de Estado da Informação, G. Jacquet é dito que “num quadro de debate permanente, o Governo não pode ficar como um interlocutor passivo, pois não tem o direito de deixar a opinião na ignorância das preocupações e dos problemas que o preocupam ou mesmo dos interesses gerais que lhe competem face à nação”.
A título de exemplo apresento aquelas que foram definidas como tarefas aquando da criação, em 1968, do Comité Interministerial de Informação (CII):
a) Assegurar a coordenação da acção de informação traçada pelos diferentes ministérios naquilo que concerne os métodos e o emprego de meios consentidos para tal;
b) Propor e realizar as acções necessárias para assegurar uma melhor difusão das informações interessando a acção dos poderes públicos;
c) Estudar o conjunto de problemas postos pela informação em função, por exemplo, da evolução das técnicas para assegurar um melhor conhecimento das questões interessando à colectividade nacional.
Note-se que a relação com os meios de comunicação era, ainda, uma excepção nas tarefas deste organismo, cabendo à tutela do Estado em si.
Em 1973 a situação da organização governamental de informação é alterada procurando criar “um organismo nacional de informação de referência” cujo objectivo era “estabelecer relações abertas e de confiança entre a Imprensa e o Governo” . O Primeiro-ministro francês anunciou a reorganização da informação governamental, três meses depois, com a criação da Delegação Geral de Informação (DGI) que procurava “fornecer a todos aqueles que têm a função de informar uma documentação rápida, completa e imparcial” . Este organismo interministerial ligado ao Ministro da Informação constitui-se como um órgão relativamente autónomo afim de informar os jornalistas de maneira sistemática. As suas funções eram:
a) Promover a difusão das informações relacionadas com os poderes públicos;
b) Colocar à disposição dos jornalistas de Paris e da província um serviço de imprensa susceptível de responder aos seus pedidos de informação sobre o conjunto das actividades dos diferentes ministérios e organismos públicos.
Os três organismos administrativos consagrados à informação governamental em França entre 1963 e 1976 testemunham uma nova dinâmica: os elementos de organização e de gestão de informação vêem-se, com efeito, modificados pelo aparecimento de órgãos e de actores administrativos especializados. Os três organismos conferiram ao Governo o “estatuto” de um verdadeiro emissor: a informação tornou-se uma actividade governamental identificada.
Esta preocupação é tão actual e pertinente naquele cenário nacional como ainda o é hoje, e mais, ao nível nacional e local.
Em Portugal tenho muito poucos dados sobre "nós". A mudança nesta área da Comunicação, em Portugal, deu-se a par da própria institucionalização do Poder Local Democrático, em 1976. As Autarquias passaram a ter como que uma “personalidade” própria e a Comunicação passou a ser a sua “correia de transmissão”.
Isto "sabe-se" mas não tenho, no entanto, muito mais para vos dizer sobre o caso particular de Portugal. Alguém tem algo mais sumarento? Conhecem algum trabalho sobre o caso de Portugal?
O contributo que consigo dar, por agora, é este. Aguardo contribuições!
Uma boa semana de trabalho!
Vera
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